“Trata-se pois de interpretar o mundo na sua transformação
e transformá-lo na sua intervenção”
(Faleiros; cit in Baptista; 2001:29)

O vocábulo “diagnóstico” deriva do grego diagnostikós, que significa apto para conhecer (Idáñez e Ander-Egg; 2007: 10), sendo o conhecimento o princípio fundamental na génese do Diagnóstico Social. É através do conhecimento real e concreto da situação-problema que o assistente social poderá progredir na intervenção, como refere Idáñez e Ander-Egg (2007: 16) é necessário conhecer para actuar e só conhecendo é que podemos agir com eficácia e eficiência. Só conhecendo é que podemos realizar um diagnóstico comprometido, adequado à etapa seguinte e sem comprometer as fases subsequentes na intervenção. Só conhecendo é possível ir mais longe, saber o que fazer e é nessa premissa que o diagnóstico social se realiza e se efectiva (Idáñez e Ander-Egg; 2007: 24).

O Diagnóstico Social surge em 1917 com o livro Diagnóstico Social de Mary Richmond, onde a autora definiu e concebeu este instrumento assente no método de serviço social de caso e segundo o modelo clínico, tornando-se este um marco na história do Serviço Social. Hoje, o Diagnóstico Social continua enraizado nos princípios basilares do Diagnóstico Social de Mary Richmond, mas foi-se transformando e evoluindo ao longo da história da profissão. Falar de Diagnóstico Social é falar de um momento no processo de intervenção que está intimamente agregado à génese da acção do Serviço Social.

Assim, podemos entender o Diagnóstico Social como “um processo de elaboração e sistematização de informação que implica conhecer e compreender os problemas e necessidades dentro de um determinado contexto, as suas causas e a evolução ao longo do tempo, assim como os factores condicionantes e de risco e as suas tendências previsíveis; permitindo uma discriminação dos mesmos consoante a sua importância, com vista ao estabelecimento de prioridades e estratégias de intervenção, de forma que se possa determinar de antemão o seu grau de viabilidade e eficácia, considerando tanto os meios disponíveis como as forças e actores sociais envolvidos nas mesmas” (Idáñez e Ander-Egg; 2007: 27).

Através desta definição operacional compreendemos a complexidade e a importância desta fase no trabalho do assistente social. O Diagnóstico Social torna-se o primeiro instrumento de um bom plano de intervenção, o seu carácter dinâmico possibilita-nos compreender as causas dos problemas, permite ver a realidade e interpretá-la, identificar as vulnerabilidades, as ameaças mas também as potencialidades e as oportunidades. Tudo isto deriva do seu carácter sistémico, interpretativo e prospectivo (Guerra; 2002:139).

Contudo, o seu carácter dinâmico traduz uma outra característica da sua génese, o seu carácter inacabado, pois o Diagnóstico Social é um momento do processo metodológico que não se encontra fechado num tempo e numa história. O Diagnóstico deve estar aberto a novos dados e informações, é “uma ferramenta de trabalho inacabada que conduz a uma reelaboração permanente do mesmo” (Idáñez e Ander-Egg; 2007: 21). Assim, o seu carácter dinâmico e esta dimensão inacabada revelam o que foi descrito por Mary Richmond ao determinar que “nenhum diagnóstico é definitivo (…) a investigação continua à medida que se faz o tratamento e durante todo o processo” (Mary Richmond cit. in Idáñez e Ander-Egg; 2007: 21)

O Diagnóstico Social pode ser desdobrado em três fases (Guerra; 2002:136): 1º fase – Pré-diagnóstico; 2º fase – Diagnóstico; 3º fase – Prioridades.

Para cada uma destas fases é necessário definir os métodos e técnicas a utilizar, bem com os instrumentos de recolha de informação. Torna-se importante ressalvar que a escolha das técnicas e instrumentos terá de ter em conta os níveis de intervenção e o seu contexto, estes não podem ser escolhidas indiscriminadamente. Deixamos alguns exemplos de técnicas e instrumentos a serem utilizados no Diagnóstico Social.

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Entrevista e Visita Domiciliária

Das primeiras aprendizagens que um futuro assistente social faz, centra-se em aprender a ver, em se confrontar com a diferença entre ver e observar e posteriormente em treinar a sua capacidade de observar, bem como de questionar. Saber observar, assim como saber questionar são essenciais à prática de qualquer assistente social, permite que o profissional fique mais disponível para o outro, para a sua situação, para aquilo que é verbalizado e para aquilo que não é dito, que se encontra latente. Possibilita-lhe ficar alerta inclusive para os seus preconceitos e crenças, bem como para as suas dificuldades técnicas e pessoais. Assim saber observar e questionar tornam-se determinantes para a realização eficiente de uma entrevista e de uma visita domiciliária e consequentemente para a eficácia do Diagnóstico Social.

Entrevista

A entrevista é um instrumento base de recolha de informação e é um meio que o assistente social utiliza para desenvolver a relação interpessoal com o cidadão. É o método de enorme relevância na intervenção, não só sustenta o Diagnóstico Social como permite desenvolver o plano de intervenção, torna-se o veículo comunicacional da própria intervenção.

Podemos identificar dois tipos de entrevista – entrevista de avaliação ou diagnóstica e entrevista de acompanhamento. A primeira visa a avaliação e interpretação da situação-problema, é neste contexto que o assistente social vai iniciar o Diagnóstico Social. A segunda constitui um momento subsequente da intervenção, é nesta ocasião que ocorre o desenvolvimento do Diagnóstico Social, é também o momento em que o assistente social avaliará, juntamente com o cidadão/ família a intervenção, bem como vai redefinindo o plano de intervenção.

Salvaguarda-se no entanto que independentemente do tipo de entrevista, os objectivos terão de ser claros e definidos, para isso as entrevistas devem ser previamente planificadas de forma a permitir uma efectiva e eficiente recolha de dados, dever-se-á construir um modelo geral para guiar a entrevista. Sabe-se no entanto que numa única entrevista, por vezes não é possível recolher toda a informação necessária, dessa forma as entrevistas deverão estar estruturadas tendo em conta as diferentes fases da intervenção.

Veja-se os exemplos abaixo.

Exemplo 1 – Guião de Entrevista Individual/ Familiar (Prestações Pecuniárias)

Exemplo 2Ficha Diagnóstico em Contexto Escolar

 

Visita Domiciliária

A visita domiciliária (VD) é um instrumento técnico-operativo cujo objectivo é a recolha de dados no meio natural de vida do cidadão/ família, muitas vezes essenciais ao Diagnóstico Social. Permite, por exemplo, um conhecimento mais objectivo das condições habitacionais, do meio envolvente, hierarquia familiar, das dinâmicas e interacções familiares.

Existem dois tipos de visitas domiciliárias – VD exploratória e VD de acompanhamento. Como os próprios nomes indicam o primeiro tipo de VD visa o reconhecimento da situação-problema, já a VD de acompanhamento caracteriza-se pelo seu caracter continuado na intervenção, onde a relação assistente social – cidadão/ família torna-se essencial para o seu sucesso. Em qualquer uma destas visitas domiciliárias o assistente social deverá identificar o que pretende observar/ analisar, os objectivos da sua realização deverão ser claros e o cidadão/ família deverá ser informada dos mesmos. Assim a VD deverá ter objectivos específicos e encontrar-se previamente planeada para que proporcione uma recolha de dados mais eficaz e não desperdice a oportunidade de um estudo ou intervenção no lócus.

Sublinha-se a importância da VD ser realizada por mais do que um técnico, esta medida deverá ser tomada, na maioria dos casos, por uma questão de segurança, mas também para se tornar um instrumento mais eficiente, pois assim há diferentes olhares sobre a mesma realidade. No entanto, quando estamos perante uma equipa multidisciplinar ou a intervir com outros serviços, e há a necessidade de realizar uma VD em conjunto, dever-se-á ter em conta o princípio de intervenção mínima, participando na VD o número de elementos estritamente essenciais.

Veja-se o exemplo abaixo.

Exemplo 1Relatório Visita Domiciliária

No fim da realização de cada entrevista assim como da cada visita domiciliária cabe ao Assistente Social criar um momento para a avaliação. Este é um momento de análise e reflexão tanto da intervenção com o individuo/ família como do seu desempenho técnico.

Avaliar aspectos da organização, o que correu bem ou mal, a necessidade de uma redefinição do plano de intervenção, entre outros aspectos é essencial para a melhor qualidade das respostas, para uma melhor utilização dos recursos e dos serviços prestados. Avaliar é potenciar a intervenção.

Genograma e Ecomapa

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genograma

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Genograma Ecomapa-1

Nuvem de Problemas

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Fonte: NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social (82).

Análise SWOT

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Fonte: NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social (83-85).

Árvore de Problemas

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Fonte: NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social (86).

Análise de Causas e Consequências

analise_causas_consequenciasFonte: NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social (87).

Espinha de Peixe

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Fonte: NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social (88).

Análise de Variável Motriz

analise_variavel_motrizFonte: NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social (89).

Grelha de Hierarquia de Prioridades de Intervenção

analise_grelha_hierarquia_prioridades_intervencaoFonte: NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social (91).

O Diagnóstico Social assume um papel de extrema importância na intervenção sendo imprescindível que a sua elaboração seja cuidada e atenta, de modo a possibilitar o conhecimento dos fenómenos sociais. Por esse motivo e de modo a potenciar a intervenção, é fulcral, como enunciámos anteriormente, que o Diagnóstico identifique as necessidades, aborde os problemas prioritários, as suas causas, qual o contexto que condiciona a situação-problema, os actores implicados, os recursos, os meios disponíveis, tal como as potencialidades e as reais oportunidades de desenvolvimento, dando-nos assim uma visão ampla e mais completa possível da realidade. Como refere Isabel Guerra (2002) “um bom diagnóstico é garante de adequabilidade das respostas às necessidades (…) e é fundamental para garantir a eficácia de qualquer (…) intervenção”.

Salienta-se, no entanto, que o Diagnóstico Social não visa apenas criar uma grelha de leitura que lhe permita compreender uma determinada situação de modo a construir uma estratégia de intervenção social, mas também procura a produção de conhecimento sobre uma determinada realidade. Existe, portanto, uma exigência recíproca, ou seja, não só é importante que a investigação tenha como finalidade a acção, como também é essencial que a acção esteja devidamente fundamentada pela investigação.

Em suma, “o que está em causa quando falamos de diagnóstico é o conhecimento científicos de fenómenos e a capacidade de definir intervenções que atingem as causas dos fenómenos e não as suas manifestações” (Guerra; 1994: 17). Só assim é possível garantir respostas adequadas às verdadeiras necessidades.

Ao abordarmos a intervenção social, em especial o momento da realização do Diagnóstico Social, teremos que ter em conta uma dimensão extra-metodológica que é muito importante no trabalho de um assistente social, diríamos que é o princípio basilar da intervenção, referimo-nos ao processo de comunicação no quadro da relação assistente social – cidadão.

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Este processo comunicacional não se reduz à simples troca de informação entre duas pessoas, é muito mais complexo, trata-se de um processo dialéctico, interactivo e alimentado por ambos. Ou seja, não basta tecnicamente saber o tipo de informação necessária à intervenção, é fundamental saber como a podemos obter. A forma mais eficiente e correcta é através de uma boa relação entre assistente social – cidadão, para isso o técnico deverá criar um ambiente de respeito e confiança, promotor do processo inicial de comunicação.

O assistente social terá de se apresentar disponível, espontâneo e interessado, utilizando uma linguagem acessível e humanizada, estes elementos permitem estabelecer a relação entre os dois. O técnico terá ainda de excluir qualquer tipo de preconceito e demonstrar respeito pelo outro, a esta dimensão encontra-se associado à singularidade do cidadão que recorre aos serviços, o assistente social terá de rejeitar da sua acção, práticas padronizadas e terá de olhar para o cidadão como um ser singular.

Estes elementos permitem estabelecer uma boa relação e iniciar um processo dialéctico comunicacional entre assistente social – cidadão assente na confiança. Assim, o profissional consegue criar uma relação de empatia, baseada na escuta activa e alimentada por técnicas operativas e conhecimentos teóricos/ metodológicos que vão permitindo reforçar a confiança, elaborar facilmente e eficientemente o Diagnóstico Social e assim progredir na intervenção.

(Andreia Carvalho Lameiras; 2015)

Referências Bibliográficas
Este texto teve como apoio as referências bibliográficas abaixo citadas e que apresentamos como sugestão de leitura para um aprofundamento deste tema.

ANDERS-EGG, Ezequiel (1995), Introducción al Trabajo Social, Madrid: Siglo XXI de Espana editores.

CARVALHO, Andreia A. Pereira (2010) Serviço Social: Teorias, Modelos e Reflexividade do Agir Profissional; Dissertação de Mestrado da Universidade Católica Portuguesa.

FALEIROS, Vicente de Paula (1971) Metodologia do Diagnóstico Social; Basília; Editora de Brasília.

GUERRA, Isabel (2002) Fundamentos e Processos de uma Sociologia de Acção – O Planeamento em Ciências Sociais; 2ª Edição; Cascais; Princípia.

Idáñez, Maria José Aguilar; Ander-Egg, Ezequiel (2007) Diagnóstico Social: Conceitos e Metodologias; 3ª Edição; REAPN.

NÚCLEO DA REDE SOCIAL – DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E CONHECIMENTO (2002) Plano de Desenvolvimento Social – Programa Rede Social; IDS – Instituto para o Desenvolvimento Social.

RICHMOND, MARY E. (1950) Diagnóstico Social; Lisboa; Instituto Superior de Higiene Dr. Ricardo Jorge.

SCHIEFER, Ulrich; TEIXEIRA, Paulo Jorge; MONTEIRO, Susana (2006) “Caixa de Ferramentas”, in MAPA – Manual de Facilitação para a Gestão de Eventos e Processos Participativos; 1º Edição; Estoril; Princípia (146-174).