“A teoria pode oferecer novos pontos de vista e perspectivas,
tais como os interventores podem pensar e agir de uma forma diferenciada.
Ironicamente não existe nada tão prático como uma boa teoria”
(Parton; 2000: 461)

O vocábulo “teoria” vem do grego theoría, derivado de theorós, que significa acção de contemplar, olhar, examinar, ver (Ander-Egg; 1995:289) e é esta visão que influencia o processo de intervenção. A teoria pode ser entendida como uma ferramenta de acção, mas também a acção desempenha um papel fundamental no mundo da teoria, uma vez que o campo prático possibilita a renovação e construção de novos conhecimentos teóricos (Almeida; s/d: 6), fundamentando uma relação de reciprocidade e interdependência em que a teoria e a prática não se encontram em pólos opostos.

No entanto, a utilização de teorias é condicionada pela “forma como compreendemos o Serviço Social e o seu papel na sociedade (…) uma teoria não nos pode dizer como ser efectivos” (Payne;2002b:128), a não ser se conseguirmos identificar quais as directrizes do nosso caminho. Payne (2002a: 28), suportado nos estudos de Harrisons, apresentou a existência de três olhares acerca da natureza e do papel do Serviço Social e que influenciam e condicionam o seu método de trabalho. Veja-se:

Visão individualista-reformista: enfatiza a natureza da profissão, enquanto produtor de serviços de assistência aos indivíduos, com o intuito de melhorar os seus problemas pessoais e promover o ajustamento desta sociedade.

Visão reflexiva-terapêutica: concebe o papel do Serviço Social, como elemento facilitador do crescimento, auto-realização e emancipação dos utentes, com a finalidade de identificar e satisfazer os seus desejos e necessidades.

Visão socialista-colectivista: esta visão é transformacional, pois defende que em vez de ajudar as pessoas a ajustarem-se à sociedade, para assim resolverem os seus problemas, deve-se mudar as estruturas fundamentais da sociedade que estão na origem da maioria dos problemas sentidos pela população, ao nível dos mecanismos de opressão, desigualdades e injustiças sociais.

Estas descrições apresentam diferentes olhares sobre a profissão que, no entanto, não correspondem a posicionamentos opostos, mas sim complementares. Na verdade, nenhuma destas visões apresenta uma imagem completa da profissão. Payne (2002b: 131) defende que o Serviço Social contém os elementos destas três visões, e ao preconizar-se uma prática reflexiva torna-se indispensável interpretar “o nosso papel no mundo e [focarmo-nos] na combinação particular dos elementos” (Payneb; 2002b: 131) destas três visões.

Estes olhares ou estas perspectivas levam o Assistente Social a posicionar-se em rotas diferenciadas, sendo que estas visões demarcam previamente o posicionamento do técnico perante os princípios da sua acção e os fundamentos teóricos que irão apoiar a sua prática.

Contudo, ao analisar-se o modelo desenvolvido por Burrel e Morgon (cit. in. Howe; 1987: 47) no qual Howe (1987: 49) se fundamentou reajustando e transformando paradigmas de análise sobre a teoria social em posicionamentos do Serviço Social, conseguir-se-á alcançar um espectro de maior conhecimento em relação aos campos de acção da profissão. Vejamos a figura que se segue, que corresponde a uma adaptação a partir deste modelo, feita por Amaro (2008:69). 

 Campos paradigmáticos do Serviço Social

Fonte: (Amaro; 2008: 69)

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