“O Serviço Social passou de paliativo e curativo para preventivo;
de atendimento a determinados grupos para uma clientela mais diversificada;
de atendimento de massa para a individualização e vice-versa;
de uma prática empírica para uma melhor qualidade de serviço;
da benevolência para a democracia;
da intuição para o método científico”
(Sand; citado em Vieira; 1982:209)

Quadro síntese dos Modelos de Intervenção do Serviço Social

O vocábulo “modelo” deriva do latim modulus, que significa “quantidade que serve de medida, tipo de comparação em determinados cálculos” (Hernández e Juárez; 2005: 62), sendo que, em termos científicos, a sua origem surge de uma lógica matemática, tendo sido ao longo do tempo adoptada por outras disciplinas. Nas ciências sociais a sua utilização surge em 1942, no entanto, foi apenas na década de setenta, pelo trabalho do Professor Werner Lutz, da Universidade de Connecticut, dos Estados Unidos da América, quando este publicou a sua obra “Emerging Models of Social Casework Practice”, que este conceito foi aplicado em contexto de intervenção social (Viscarret; 2007: 65 e Hernández e Juárez; 2005: 62).

Este conceito surge num período de crise do modelo tradicional e consequentemente dos métodos do Serviço Social, a conjuntura sócio-politica que estava na base da institucionalização do Serviço Social entra em crise a partir dos anos 60, obrigando a profissão a reflectir sobre a sua actuação e questionar-se sobre os alicerces que sustentavam os princípios basilares do Serviço Social, e, é nesse período, que nascem os «Modelos para o Serviço Social» (Lutz; cit. in Viscarret; 2007: 65), que Lutz descreveu como algo simbólico que integra na sua génese os fenómenos a que se dirige, os princípios que deverão nortear a sua acção, bem como os métodos e as técnicas a ser utilizados na intervenção (Viscarrei; 2007: 66).

Neste seguimento poder-se-á descrever e definir um “modelo” como um “conjunto de princípios relativos a um campo definido por fenómenos ou experiências. De acordo com um esquema referencial para aplicar na prática, supõe uma representação simplificada e esquematizada da realidade, que surge de uma teoria, que pode ser aferida na prática” (Caparrós; 1998:129).

Através desta definição, conclui-se que “modelo” e “teoria” se encontram intrinsecamente ligados. Este facto leva-nos, desde logo, a referir que estes dois vocábulos enunciam diferentes abordagens e significados. De um modo simplista um “modelo” encaminha-nos e orienta-nos para uma explicação e para a prática, a “teoria” explica-nos um conjunto de fenómenos de uma disciplina, concebendo um modelo como um referencial para guiar a prática (Caparrós; 1998:122). Esta concepção encerra um facto irrevogável: “podem existir teorias sem modelos, mas não há modelos sem teorias” (Hernández e Juárez; 2005:63).

Isto significa que, qualquer modelo tem a sua génese em diferentes teorias, mas são os modelos que possibilitam uma leitura, uma visão sobre o modo de actuação em determinada realidade, permitindo saber como “recolher os dados, elaborar as hipóteses, eleger os objectivos, estratégias e técnicas que se adequam a determinados problemas” (Du Ranquet, 1996:4), possibilitam interpretar, estruturar a realidade, bem como, o modo de actuação.

Existe um conjunto diversificado de modelos teóricos para a prática do Serviço Social, modelos integrados em diferentes métodos da profissão – individual/ familiar; grupal e comunitário – porém não se pode identificar, nem evidenciar qual ou quais os modelos com maior eficácia e eficiência, isto porque como refere Ponticelli (1998:19) não há “o modelo”, aquele que é capaz de suprimir, de se adequar a todas as situações. Todos eles acarretam um esquema conceptual, mas este não é adaptável, maleável, flexível a todas as realidades. Por esse motivo, a escolha quando recai sobre um determinado modelo nunca poderá ser feita arbitrariamente, de um modo indistinto, sem ter em conta um conjunto de determinantes, de variáveis que influenciam a sua boa utilização.

Por esse motivo Lutz (citado em Viscaret; 2007:66), define oito variáveis como os elementos que limitam a escolha de um modelo para a prática do Serviço Social, sendo elas:

  • O tipo de situação com que intervêm: pretende-se identificar quais as problemáticas a que o modelo se dirige.
  • Conteúdo conceptual: a análise recai sobre o conteúdo conceptual utilizado para descrever os problemas, estudá-los, determinar os objectivos da acção e os princípios de ajuda. Este conhecimento pode ser realizado de acordo com diversas categorias:
    1. estudo de todos os sistemas teóricos ou partes de teorias referentes ao Homem e às dimensões físicas, biológicas, psicológicas, sociais, culturais, económicas ou políticas;
    2. pontos de vista e perspectivas, teorias, proposições ou hipóteses oriundas de estudos históricos, filosóficos ou teológicos em seus aspectos tanto éticos, como metodológicos;
    3. enunciados sistemáticos relativos à natureza do Homem e aos meios de influenciá-lo, fornecidos pela experiência da prática profissional.
  • Natureza da intervenção: esta deverá ter em linha de conta as seguintes dimensões:
    1. os diferentes objectivos que se pretendem alcançar tanto a curto, como a longo prazo e tanto em termos teóricos, como operacionais;
    2. os princípios de acção que caracterizam o modelo e os seus procedimentos, métodos e técnicas; os princípios e procedimentos que idealmente deveriam articular-se com o intuito de exercerem uma influência positiva sobre os aspectos problemáticos em estudo e considerados pelo modelo como relevantes.
  • Natureza da instituição: é onde o modelo será aplicado. Este aspecto deve ser analisado em relação ao seguinte:
    1. as características organizacionais exigidas pelo modelo;
    2. as características ambientais onde o modelo será utilizado e as dificuldades que poderão ser encontradas.
  • «Sociologia» contida na prática do modelo: refere-se à visão do status e do exercício da profissão tanto na perspectiva dos assistentes sociais, como de outros profissionais.
  • Os valores e a ética subjacente ao modelo.
  • A concepção da pessoa que sofre do problema: Esta variável determina as diversas concepções, segundo as quais se determinam as causas dos problemas (natureza humana; circunstâncias exteriores à pessoa; interacção entre os seus elementos externos e internos). Pretendendo esta dimensão, também, identificar a natureza e a força das capacidades da pessoa para fazer frente aos seus problemas.
  • A natureza da relação entre o Assistente Social e o Cidadão.
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